segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011



Itamonte, 7 de fevereiro de 2011.  Segunda-feira.

Oi coração! Faz tempo que a gente não se fala né? Assim frente a frente!
Me desculpa ter te evitado por esses dias... Sinto muito!
Mas deixa-me começar porque sinto que conversa será longa.
Eu queria escrever uma carta, talvez um livro... Com tanto sentimento eu escrevia um livro de 500 folhas, mas meus braços cansados dessa cirurgia não agüentariam.
Os dias têm passado lentamente pra mim, tão sem pressa, tão preguiçosos. Às vezes até parece que eles se divertem com a minha agonia.
Eu tentei escrever, mas as palavras queriam sair doídas e sabe? Ah! Não quero escrever tristezas. Não quero materializar lágrimas. Não agora. Não hoje.
Talvez, eu queira somente uma conversa casual, uma troca de informações, um colo... Ou até mesmo um puxão de orelha. Uma distração, uma música, um violão.  Um brigadeiro, um filme, um travesseiro. Uma amiga, um amigo, um amor rotineiro. Uma garrafa de tequila e uma dor de cabeça de manhã.
Às vezes eu quero tanto que eu não dou conta de querer.
Bom, queria te contar que quando eu fui pro hospital e eu passei por aquela porta do centro cirúrgico e vi minha mãe ficando pra trás, chorando, atordoada... Eu chorei! Eu chorei porque tinha medo que você não batesse mais, que talvez eu nunca mais visse as pessoas que são extremamente importantes e pior ainda não conhecesse muitas delas. Eu tive tanto medo, e mais uma vez eu me senti um bicho acuado, sem ter pra onde ir.
Mas então eu abri os olhos e senti você batendo tão forte como nunca... E eu chorei de novo! Eu chorei porque eu me dei conta que eu sou capaz, que eu posso e que eu tinha subido mais um degrau da minha escadinha.
Eu tive tanto medo de não te sentir mais.
Mas passou. A gente está aqui.
Queria te contar que hoje é um dia especial pra mim, e a única pessoa que sabe o porquê talvez não vá lembrar.
Eu nunca fui muito desse trem de data não, mas as coisas sempre acontecem... Hoje me deu vontade de escrever.
Eu tenho passado por tanta coisa sabe? Parece que de uma hora pra outra a minha vida simplesmente revirou.  
E aquele costume de pensar “isso não vai interferir” e realmente isso não interferir... Passou!
O de pensar “você não vai ligar pra isso” e realmente não ligar... Mudou.
Eu odeio não saber o que fazer... Eu sempre tive tanto controle de mim e de uma maneira interessante esse controle simplesmente sumiu.  Ele nem sente saudades, se foi.
Ou seja, o fato de eu ser uma pedrinha, uma menina de lata... Morreu.
Alguém suficientemente capaz de ler minha alma apareceu e com isso agora voltei a saber sofrer, a saber me importar, a me preocupar. Eu abri as portas pra esses sentimentos há tanto tempo esquecidos debaixo do tapete da sua porta.
Tia me disse que você tava quase enferrujando, sabe? Que você ia esquecer como era funcionar! Nesse dia eu fiquei com medo.  Tentei te fazer disparar, mas foi em vão.
E agora que você dispara do nada, agora que você bate quase cem vezes por minuto...
Agora... Eu simplesmente não sei.
Não fica calado assim.
Eu queria não te machucar, mas aí você enferrujaria e agora fazendo o contrário você pode sangrar!
Minha intensidade é que peca por mim.  Que me faz querer demais, amar demais, sentir demais, sofrer demais.
Parece que eu sinto tudo em demasia.
Mas eu te garanto que eu vou dar um jeito nisso, você vai ficar bem. Vai sim!
Queria te contar que eu cortei o cabelo! É! Milagres acontecem, né?
As pessoas me dizem que está lindo, mas eu me sinto pelada.
Só que como diz o Léo... Cabelo cresce!
Eu fico imaginando a bronca que ele me daria se me visse fazendo esse drama todo, a bronca que ele me daria se ele aparecesse.
Queria te contar que foi aniversário do meu pai e eu... Eu nem sabia.
Eu não lembro mais que dia meu pai faz aniversário e isso me dói. Dói tanto!
Eu só lembrei porque chegou aqui em casa um cartão de parabéns do banco e acho que não deu tempo de Mãe jogar fora.
Eu fiquei sentada uns dez minutos na cadeira da copa com aquele cartão na mão até que o telefone tocou e eu percebi que tinha feito uma poça de lágrima na mesa.
Queria te contar que esses dias eu fui pra escola com a Juju e a gente resolver passar na Capelinha pra rezar. Sentamos no primeiro banco, ela me olhava e abaixava a cabeça.
Até que ela perguntou.
- Ô Maria Clara é aqui que a gente pede tudo pra Deus?
- É  Ju! Reza pro Papai do Céu.
- Eu posso pedir o que eu quiser?
- Pode.
Ela apertou os olhinhos e falou baixinho.
- Oi Papai do Céu! Eu quero que você cure bem curadinho os peitos da Maria Clara!
Eu desmontei!
Eu apertei-a num abraço mais apertado que eu pude. Como ela é linda!
É a prova que tudo um dia dá certo.
Ah! Eu queria te contar mais e mais... E mais!
Mas que bobagem a minha!  Até parece que eu não sei que quem sente e processa tudo isso é você!
Desculpa-me, tá?
É que fazia tempo que a gente não conversava. Fazia tempo que eu te evitava. Fazia tempo que eu não te escutava.
Acho que está na hora de ir... Senão logo eu vou chorar!




Prometo tentar conversar mais e cuidar melhor de você.
Fique bem.


Maria Clara 

2 comentários:

  1. Vontade imensa de te abraçar, Maria Clara! Imensa!
    Eu não sei o que dizer mais... E há tanta coisa que eu queria dizer... Amo você!

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  2. Eu te amo amora e obrigado pela sua amizade! Quero muito um abraço seu. s2

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