segunda-feira, 10 de janeiro de 2011




"Naquele momento, o triste homem pensou no pai, que lhe esmagara a infância, lhe causara muita dor. Seu pai, emocionalmente distante, alienado, enclausurado em si mesmo, mas o suicida não tocava nesse assunto com ninguém; era-lhe extremamente difícil lidar com as cicatrizes do passado. Atingido por essas recordações angustiantes, disse em tom mais ameno, com lágrimas nos olhos:
- Cale-se. Não fale mais nada. Deixe-me morrer em paz.
Ao perceber que havia tocado em uma ferida profunda, o homem que o questionava diminuiu também o tom de voz.
- Eu respeito a sua dor e não posso elaborar nenhuma tese sobre ela. Sua dor é única, e é a única que você consegue realmente sentir. Ela te pertence e a mais ninguém.
Essas palavras iluminaram os pensamentos do homem quase em prantos. Ele entendeu que ninguém pode julgar a dor dos outros. Compreendeu que a dor de seu pai era única e, portanto, não poderia ser sentida ou avaliada por mais ninguém a não ser ele mesmo.
Como poucas vezes na vida, chorou sem se importar com as pessoas que o observavam. Era um homem de cicatrizes profundas.
- Meu pai brincava comigo, me beijava e me chamava de “meu filho querido”, mas ele me abandonou quando eu era criança, sem me dar explicação e hoje faz que não me conhece.
Ele chega a me ignorar pela rua."

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