sábado, 9 de outubro de 2010

5ª feira e uma paixão.



Era uma quinta-feira, chovia e eu estava cansada.
Não queria assistir aula, não queria ver as mesmas faces, os mesmos professores, as mesmas coisas... Nossa! Que azia de tudo isso. Queria algo novo, acabado de despertar, de chegar, de ser descoberto.
Mas enfim, não estava ao meu alcance. Coloquei a calça jeans, uma blusinha de meia malha cinza, um tênis e uma tiara. Como sempre, nunca mudava. Peguei a bolsa, não olhei se tinha trabalho, matéria, códigos. Nada! Peguei a bolsa como estava e fui para o ponto de ônibus.
A viagem era a parte mais atraente de todas as coisas do meu dia porque eu gostava da paisagem que avistava pelo caminho, da serra, das estrelas, ah... as estrelas!
Eram cinqüenta minutos que passavam em um piscar de olhos pelo costume e pelo fato que eu sempre viajava, literalmente.
Cheguei à faculdade, ô coisa chata! Pelo amor de Deus.
Eu não fazia nenhuma questão de esconder que estar ali não me agradava, reclamava... Reclamava mesmo.
Passei na cantina comprei uma água com gás e um pirulito, prática habitual. Subi para sala, entrei, sentei, coloquei o fone no ouvido e fechei olhos. Coragem Maria Clara, coragem! São só quatro aulas e vai passar rapidamente.
O professor entrou. O desespero ria na minha cara.
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- Má?
- Má?
- Maria Clara!!!
- Oi! Carolinda.. que foi?
- Parece que está surda! Vamos lá comer, já bateu o sinal.
- Ok!

Peguei a bolsa, que eu nem tinha mexido, e desci.

- O que você quer comer, Má?
- Ah, nem estou com fome, eu quero é ir embora... ou não.
- Tudo bem, vou comprar um suco e já volto. Espera-me aqui.
- Unhum.

Ela saiu e eu sentei-me no banquinho mais próximo. Do lado havia mais bancos e tinha um pessoal conversando, para mim quanto menos gente melhor, então não olhei e não cumprimentei, somente sentei para esperar.
Olhei para a cantina e a fila estava enorme, eu podia ver a Carolinda no exato lugar de onde eu a tinha deixado...  Olhei para o pátio e encontrei o gato que ficava perdido por lá, era um gato tão lindo! Preto com umas manchas brancas, roliço e amável! Por instinto levantei e o peguei no colo, ele se moldou nas minhas coxas e começou a brincar com o cordão do meu capuz, era uma pena eu não poder levá-lo comigo, íamos ter um grande laço de afeto.
Concentrei-me na brincadeira com o gato e esqueci-me da fila que a Carol enfrentava. Foi quando eu ouvi uma voz estranha, assustei! Não tinha visto ninguém se aproximar de mim.

- É seu? Que lindo!
- Er! Hmmm...
- Oi! Está tudo bem?
- Sim.
- Eu te assustei? Desculpe-me, não era a intenção, eu queria ver o gato mais de perto.
- Então toma! Coloquei o gato no colo dele e levantei.

Que droga! Que susto! Que saco! Pensei infinitas coisas negativas, mas não encontrei razão para nenhuma delas.

- Ei, desculpe-me! De verdade, não precisa ficar brava. Eu já estava de saída.
- Eu não estou brava.
- Parece...
- É, mas não estou.
- Ah, que bom. Mas você não respondeu! O gato é seu?

Ele continuava com o gato no colo, um desajeito.  Parecia que nunca tinha pegado um animal! O bichinho olhava para mim praticamente suplicando que eu o tirasse daquelas mãos.

- Não, não é. Ele fica aqui no pátio. Solta ele? Acho que ele não está gostando.

Ele olhou para mim, olhou para o gato e jogo-o no chão como uma bola. O coitado soltou um miado estridente e correu para debaixo do banco.

- Pronto.
- Delicado você!
- Simpática você!
- Pshh.. bom vou indo, até mais!
- Está chovendo! Vai sair na chuva?

Eu não tinha me dado conta, mas a fila e o intervalo já tinham acabado e a Carol tinha sumido. Começou a chover e eu não tinha sombrinha, resultado: eu estava ilhada no pátio da faculdade com um gato roliço e um desconhecido que aparentemente me irritava.

- Nossa! E agora?
- Espera passar, não deve chover por muito tempo.
- É, vai ser o jeito.

Ele me olhou, deu um sorriso e sentou. Eu continuei em pé encostada na pilastra. Eu estava realmente sem graça, mas ao mesmo tempo estava encabulada com aquela pessoa que saiu do nada. Um silêncio de dez minutos pairou sobre nós.
Eu fiquei pensando e cheguei à conclusão de que pior que estava não ficaria. Então eu poderia dar o braço a torcer.

- Você faz qual curso? Eu perguntei com receio.
- Ah, eu não estudo aqui. Só vim pegar a chave do meu apartamento com a minha irmã.
- Hmm, entendi...
- E você? Cursa o que?
- O curso mais chato do mundo, pelo menos para mim, direito.
- Uia, uma advogada! Haha Mas porque não gosta?
- Ah, não quero falar disso! Sério. Eu saí da aula para esquecer isso, para encontrar alguma coisa no...v..a.

Eu mal consegui terminar a frase quando tudo girou e eu percebi que aquela pessoa era algo novo para mim.

- Oi? Olha, desculpe-me de novo. Mas eu já estou ficando sem graça! Não consigo acertar uma coisa com você, rs
- Relaxa. Esquece de mim! Fala-me de você.

Depois da relação que tinha acabado de fazer minha curiosidade tomou conta e eu já era totalmente amigável.

- De mim? Ah, eu sou novo aqui! Vim de Santa Catarina para trabalhar com meu pai em um dos restaurantes que ele abriu pela redondeza.
- Meu Deus! Que mudança radical.
- Pois é meu pai têm parentes aqui e resolveu ter uma vida mais tranqüila, aproveitar que aposentou. Mas ele ainda não veio só eu. Minha irmã é casada e já mora aqui há alguns anos, eu vou ficar em um apartamento ali na Federal até o meu pai resolver a vida lá e decidir tudo.
- Entendi, mas a Federal é aqui perto dá para você ir correndo! Rapidinho estará em casa.
- Sim, mas não vou para a casa. Antes, vou passar no restaurante para ver se está tudo certo e como foi o dia!
- Onde é?
- No Centro, perto da Matriz.
- Putz, aí complicou. Com chuva a matriz passa a ser longe, não para mim, mas acho que para você sim.
- Porque não para você? Por mim está tudo bem.
- Eu amo chuva e, além disso, não tenho que ir até a Matriz! Hahaha
- Ah!
- Desculpe-me, eu não resisti!
- Imagina, agora estamos em 2 a 1 para mim. Você ainda tem direito a mais uma! Haha
- Hmm, vou me lembrar disso! Pode ter certeza.

As luzes da cantina se apagaram, olhei para a chuva e nada. Continuava a cair água.

- Eu posso te perguntar uma coisa?
- Pode. Respondi mais uma vez com receio.
- Como você se chama?
- Ah, claro. Que coisa não? Maria Clara, meu nome é Maria Clara!
- Mas que lindo nome! Eu me chamo Pedro Jorge, prazer.
- Oi Pedro Jorge, igualmente.

Dei um sorriso desajeitado e me encolhi na blusa.

- É Maria Clara, acho que eu estava errado e essa chuva vai demorar a passar.
- Não precisa me chamar de Maria Clara, escolha um dos dois. Quanto à chuva não vejo outra solução a não ser tomá-la.
- Eu gostei de Maria Clara, posso continuar assim? Acho que tenho outra solução. Menos molhada, haha.
- Pode, faça o que achar melhor. E qual seria?
- Eu te dar uma carona até o local onde pretendes ir.
- Carona?
- Sim, estou de carro.
- Que? Como assim? Faz mais de 40 minutos que você está esperando a chuva passar e você está de carro? O que é isso?

Eu fiquei sem saber o que pensar, como que uma pessoa espera a chuva passar se ela tem condições para não esperar?

- Não sei o por que. Mas calma, vamos comigo. Eu te deixo aonde você quer chegar.
- Eu não quero chegar.
- Oi?
- É, é isso mesmo! Eu não tenho e nem quero chegar a nenhum lugar. Quero ficar sem rumo.
- O que acontece, Maria Clara? O que a machuca?
- O mundo.

Meu coração apertou. Mas que droga! Será que passar um dia sem chorar era pedir muito? Saco! Eu podia sentir as lágrimas fazendo poças em meus olhos, peguei a manga da blusa enrolei no dedo e enxuguei enquanto Pedro Jorge fingia que olhava para a chuva.

- Olha, está tudo bem. Porque você não vem comigo conhecer o restaurante de meu pai?
- Porque não.
- Não seja tão dura com você. Está com medo de mim?
- Não, estou com medo de mim.
- Relaxa, vamos lá! Eu posso te servir vinho ou algo para comer. Tudo lá é muito saboroso, modéstia parte.

Mal ele acabou de pronunciar as palavras o som áspero e penetrante do trovão nos assustou, o gato deu um pulo e saiu correndo em direção ao morro que tinha do lado da faculdade, as luzes se apagaram e a chuva caiu tão intensa, com o vento e seus assovios, eu só consegui dar a mão a Pedro Jorge e correr em direção ao portão principal.

- Molhou muito?
- Mais ou menos. Eu disse com um ar de desleixo.
- Eu tenho uma blusa ali se você quiser, vista.
- Não precisa. Está tudo bem.
- Ok. Então vamos lá.

Eu assenti com um sorriso amarelo e tranquei a porta do carro. Percebi que era a minha hora de iniciar a conversa e então mandei a pergunta mais clichê e totalmente indiscreta que me veio à cabeça.

- Pedro Jorge quantos anos você tem?
- Não precisa falar os dois, escolha um. Hahaha
 24! Idade gay. E você?
- 20
- Nossa! Não te dava nem 16.
- Ah vá.
- Sério!
- Como eu estaria em uma faculdade com 15 anos?
- Não sei, não pensei por esse lado, mas você realmente não tem cara de 20 anos.
- Hmm, ok. Você não é a primeira pessoa que diz isso, tenho que me acostumar.
- É sim, Clarinha.
- HAHAHA
- Acha ruim?
- Não, e não precisa ficar perguntando toda hora. Relaxa! Quando eu não gostar eu aviso.
- Azeda! Chegamos.
- Hunf.

Desci do carro, como eu imaginava o restaurante estava às moscas, não porque era ruim, mas pela chuva e talvez pelo horário! Meu Deus! O horário!

- Pedro Jorge! Quantas horas, Pedro Jorge?! Perguntei em estado de choque.

 Ele olhou para o relógio e tranquilamente me disse que eram onze e dez.

- Onze e dez???? Como assim??? Pedro Jorge eu perdi meu ônibus!
- Nossa! Ele sai que horas?
- Às dez e quarenta! Meu Deus, eu perdi o ônibus! E agora?
- Fica tranqüila, vamos tentar alcançá-lo.

Eu entrei no carro desesperada, com os pensamentos confusos... Sem saber o que fazer.

- Corre Pedro Jorge, eu preciso alcançar esse ônibus.
- Está bem, vou fazer o que eu posso.
- E o que não pode?
- Eu não posso te matar, né? Qualquer coisa eu te levo para a casa. Calma.

Minha cabeça ia explodir, eu queria gritar ou então somente fechar os olhos e perceber que era só um sonho. Ou um pesadelo. Nada fazia mais sentido, eu estava no carro de um desconhecido, perdendo meu ônibus e provavelmente não ia chegar em casa na horário certo.
Mas eu só tinha brincado com um gato no intervalo, gente!
 Foi quando me veio à cabeça o meu desejo antes de sair de casa. Raciocinei. E lembrei-me de uma frase que mamãe sempre me diz: - Preste atenção ao que você fala porque os anjos podem dizer amém.
Talvez fosse isso. O meu desejo estava sendo atendido.

- São onze e vinte e cinco, se tudo deu certo e não teve trânsito o ônibus já chegou à minha cidade.

As palavras saíram doloridas.

- Maria Clara desculpe-me, mas não posso correr mais que isso.  A estrada está lisa e a chuva está forte! A gente pode sofrer um acidente.
- Está tudo bem.

Ele tinha razão.

- Vamos voltar.
- Para onde? Eu não tenho para onde voltar.

Pensei em pegar o celular e ligar para qualquer colega meu, mas o sinal não dava, estava cortado por causa da chuva.

- Para a minha casa.
- Mas você ficou maluco?
- Por quê?
- Como é que eu vou para a sua casa? Como é que eu fico na casa de uma pessoa que eu nunca vi antes?
- Parando de fazer drama e encarando a situação. Você não tem para onde ir, seu celular não está pegando, a chuva está cada vez mais forte e a luz pode acabar de novo a qualquer momento. É isso.

Eu me senti uma criança de seis anos levando bronca da professora. Coloquei as informações dele na balança, pensei novamente na frase de mamãe e resolvi ligar o foda-se.

- Desculpe-me. Vamos para a sua casa e obrigado por me acolher.
- Não quis ser grosso, sabe? Mas você é jogo duro.
- Está tudo bem. Vamos!

Ele ligou o carro e deu ré, em 10 minutos a gente estava no passeio do prédio. Não tinha ninguém na rua, claro. Peguei minha bolsa, desci... A chuva começou a molhar o meu cabelo descendo pela minha face, sendo chupada pela minha blusa. Por um minuto eu abri um dos meus sorrisos mais sinceros daquela noite. A chuva me fazia extremamente feliz.

- Maria Clara? Maria Clara, você vai ficar muito molhada! Vem!

Pedro Jorge já havia trancado o carro e esperava-me na porta do prédio. Fui até ele.

- Que isso! Para quem já está molhado um pingo é besteira! Não é?
- Sua louca! Vamos subir você pode ficar doente.
- hahahahaha! Vai à frente, pai. Falei com ar irônico.
- Boba!

Subimos. Quando ele abriu a porta eu pude sentir a troca de temperatura, lá dentro estava quentinho enquanto lá fora o vento cortava meu rosto. Passei o olho pelo apartamento, era tudo muito simples, lindo! A sala tinha uma cortina azul que combinava com as almofadas e, além disso, tinha uma poltrona voltada para a sacada onde se via a rua! Na parede tinha uma fotografia de Pedro Jorge, ele era bonito! Moreno de olhos azuis, uma boca bem desenhada e carnuda, mas o que mais me chamou atenção foram as covinhas, lindas! Fiquei encantada.

- Que bacana seu apartamento!

Falei com um ar de visita chata que vem em casa só pra reparar. Mas foi que veio a minha cabeça e eu ainda estava encabulada, sem conseguir agir naturalmente.

- Minha mãe decorou, comprou tudo combinando! Mulher tem disso, né? Por mim poderia ser bem mais simples. Estaria ótimo!
- Vocês homens são desleixados demais.
- Depende com o que! rs
- Hmmm!

Ele entrou em uma porta que deduzia eu ser um quarto e voltou em instantes com uma toalha na mão.

- Bom, eu vou tomar um banho. A chuva estava fria demais, estou todo molhado e com frio! Do lado da cozinha tem um banheiro, eu vou tomar banho lá e você, se quiser, toma um banho no banheiro do meu quarto, pode ficar a vontade! Eu deixei uma toalha, uma camiseta e uma calça de moletom em cima da cama... Acho que vão te quebrar um galho!


Eu prestei atenção em cada palavra que ele me dirigiu e fiquei sem reação.

- Er, ok. Tudo bem!
- Tudo mesmo? Não fique constrangida.
- Sim! Eu vou tomar banho.
- Então vamos!

Eu olhei para a boca dele, subi e encontrei os seus olhos. Não emiti uma palavra, apenas, continuei olhando, fixamente.

- Por aqui Maria Clara...

Ele saiu da frente da porta e deixou o caminho livre para que eu pudesse passar. Coloquei a bolsa em cima da poltrona, passei por ele e entrei no quarto.
Deparei-me com uma cama enorme, revestida com um lençol de listrinhas foscas, alguns travesseiros, a toalha, a camiseta e a calça.
Tinha ali um guarda roupas, uma cômoda com alguns livros e uma TV, um computador e um som. Tudo de uma simplicidade encantadora. Entrei no banheiro, liguei o chuveiro e tirei a roupa.
Torci a roupa no box, até ficarem pelo menos úmidas, dobrei-as e deixei em cima da pia.
Então tomei banho, relaxei. A água quente me deixava mais mole, mais calma.
Vesti a camiseta, ela batia no meu joelho! Era de se esperar. Comecei a procurar sem esperanças por um secador de cabelo, mas para a minha surpresa achei! Sequei o meu cabelo, guardei tudo e fui até a sala.
Pedro Jorge estava na cozinha, com uma blusa e um short preto, diferente do começo da noite.

- Oi. Eu disse com um ar envergonhado.
- E aí deu tudo certo?

Ele falou sem virar para trás e sem me olhar. Continuou focado no que fazia.
Eu encostei-me na poltrona que dava para a rua.

- Deu, deu sim! Deixei tudo do jeito que eu achei, obrigado.
- Que isso! Bagunça é meu sobrenome, relaxa.

Foi então que ele virou-se, olhou para mim e veio na minha direção com duas taças.

- Vinho? Ele levantou uma sobrancelha.
- Eu peguei a taça.
- Espero que goste! É um dos meus preferidos.
- É ótimo.
- Nossa, consegui algo que você não discorde! Hahaha
Está com fome?
- Na verdade eu discordo de poucas coisas desde o começo da noite, mas geralmente eu não dou o braço a torcer.
- Percebi!

Ele virou-se, foi até a cozinha e voltou com a garrafa de vinho.

- Aqui está, pode ficar a vontade!
- Obrigado.

Vestida com uma camiseta dele até os joelhos, eu não tinha colocado a calça, eu estava voltada para a sacada com uma taça de vinho na mão. Olhei e vi que a chuva não tinha cessado. Pensei no que o clima, no que situação e no que vinho me remetia, mas meus pensamentos foram cortados assim que senti a presença de Pedro Jorge atrás de mim. Ele colocou umas das mãos na grade e me flexionou contra ele e ela, com a outra mão ele passou os dedos pelos meus cabelos ainda úmidos, descobriu a minha nuca, passou o nariz por ela e parou perto do meu ouvido dizendo:

- No que você está pensando?

Meu coração batia descompassado, sem nenhuma ordem, meus pensamentos foram se misturando ao desejo e ao estímulo do que ele acabara de fazer.

- Nessa situação.

Bebi o último gole do vinho e esvaziei a taça.

- Tem alguma coisa te incomodando? Não está se sentindo bem?

Ele se encontrava na mesma posição.

- Não, eu estou à vontade. Eu acho.

Ele afastou-se. Um ar frio entrou pelas minhas pernas e eu senti uma falta enorme do corpo dele atrás do meu.

- Mais vinho?

Eu virei e encostei-me à grade de costas para a rua, ele estava na sala pegando a garrafa.

- Sim.
- Na mão!

Ele encheu minha taça, totalmente.

- Obrigado!
- Um brinde, não?
- A que?
- A chuva, ao gato, ao ônibus perdido, a você, a mim e ao final dessa noite.
- Tim Tim!!!

Batemos as taças e ele me flexionou novamente contra a grade e ele. Deve vez eu pude sentir o seu hálito quente, sua boca estava exatamente em frente a minha, ele segurou minha nuca e os meus cabelos com uma mão, passando o nariz pela minha face, depois a boca pelo meu pescoço. Com vontade. Depois colocou a taça em cima da grade e então com as duas mãos ele segurou meu rosto e me olhou fixamente. Eu estava imobilizada, não só por ele, mas pelo desejo que ardia dentro de mim, segurava a taça com dificuldade, minhas mãos suavam, engolia a seco e podia escutar o meu coração explodindo dentro de mim.

- Não sei o porquê, mas acho que nós dois estamos querendo e sentindo a mesma coisa.

Ele suspirou novamente ao meu ouvido. Eu já não conseguiria resistir mais, nem mesmo se eu tentasse. Eu comecei a adorar sentir aquele arrepio, aquela vontade, aquela necessidade de tê-lo dentro de mim.

- Anh!

Foi tudo o que eu consegui dizer. Ele abraçou-me com voracidade e finalmente beijou-me com pressa, como quem espera por algo há muito tempo, eu o beijava com necessidade, com fome.
Ele então me puxou e me levou para dentro, pelo caminho da sala até o quarto, eu tirei a sua camiseta, passei minhas unhas delicadamente pelas suas costas, eu podia sentir o prazer que ele sentia.
Jogamos-nos na cama e então ele tirou a camiseta que eu vestia, beijou-me delicadamente, desceu pelo meu corpo e com a boca me arrancou suspiros de prazer e contentamento.
Subiu novamente pelo meu corpo e colocou-me exatamente no ponto certo para lhe tirar do sério. E foi assim que eu o fiz perder o bom senso, arder de vontade, secar de desejo.
Até que nos encontramos no momento exato de saciar o que nos enlouquecia, de modo conciso, convidei-o a me possuir.
Fui sua da maneira mais ousada do mundo. Ao barulho da chuva, acompanhada de vinho e novidade.
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O sol bateu na janela do quarto, abri os olhos com preguiça. Eu estava abraçada com Pedro Jorge, recordei os fatos, pensei na noite anterior e sorri de uma maneira contemplativa.
Olhei para ele dormindo, passei a mão por entre os seus cabelos e dei-lhe um beijo na testa. Ele abriu os olhos e automaticamente se jogou sobre mim, me deu um beijo e disse:

- Bom dia estranha! Obrigado por entrar na minha vida.

Eu suspirei, apertei-o no abraço e ficamos ali durante algum tempo.


Pedro Jorge e eu temos uma paixão, um carinho e uma fidelidade.

No dia seguinte, eu fui pra faculdade com o tédio de sempre, mas com um sorriso gostoso. Subi para sala, assisti às aulas e na saída levei o gato roliço para casa.


Maria Clara



4 comentários:

  1. Uia... Isso é verdade??? Se for tem ótima memória Clarinha. Bem escrito. Mesmo, mesmo!!!

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  2. Fruto da imaginação, amorinha! rs
    Obrigado gatinha! *-*

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  3. que isso novinha putis

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